quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Vida em cada lápide


Ontem estava entre mil assuntos com uma grande amiga. Espiritismo um deles, já que sou uma grande interessada e curiosa na área e ela, espírita. Eu sou encantada com espiritismo. Honestamente, não sei por que ainda não sou praticante da religião. Mas estou caminhando... Fui criada em família católica, batizada, fiz primeira comunhão, crisma e tudo que tive direito. Quase tudo, aliás. Entrar de vestido branco e fofo, com padre e marcha nupcial, só aos três anos como dama de honra, rs.

Além de todas as simpatias com o espiritismo – que não vou descrever aqui para não parecer uma pregação religiosa – agrada-me muito a maneira como ele mostra a morte. Ela, tão temida, tão odiada, vira uma passagem para o seu verdadeiro e eterno ser, a sua essência.
Mas, fora as alongadas introduções sobre espiritismo e morte, hoje eu quero falar mesmo é sobre cemitérios. Eu adoro cemitérios.

Esse aí da foto foi fantástico conhecer. Estava desbravando as ruas de Joinville, solitária andarilha curiosa, envolvida num cachecol e numa câmera fotográfica. Caminhando pela paisagem urbana, surgiu, pela direita e envolvente, a visão de portões antigos, enferrujados e uma grama muito verde, bem cuidada.
O terreno por trás das grades era um pouco alto, um morro, cheio de lápides muito antigas. Parecia que a rua havia voltado no tempo, comigo nela. Entrei. Tudo vazio. Túmulos todos com escrituras em alemão. Era o Cemitério dos Imigrantes, inaugurado em 1.851. E eu fiquei tempos por ali, demorei a voltar ao presente.
Fora as rápidas palavras com um homem que estava ao fundo, aparando e bem cuidando a grama, não tive oportunidade de conversar com mais ninguém. Não havia mais ninguém ali. Acho que as pessoas não gostam muito de cemitérios.

Então, entre meus monólogos, observei. Observei. E observei. Diante de cada túmulo, das datas de nascimento e morte, do estilo da lápide, eu imaginava o que poderia ter sido da vida ali. Era tanta lápide, tanto nome, tanta data. Era tanta gente, era tanta vida.
E é muita história, continua sendo, imortalmente história.
Ali, diversas lembranças em formas de concreto, de pessoas com uma face, uma cultura, uma trajetória, possivelmente com algo em comum com a terceira lápide à esquerda, ou a quinta ao sul...

Acho que é por isso que eu gosto de cemitérios. Eles me fazem lembrar que a morte leva um bocado de coisas, mas a história fica.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Caras, bocas e o Rei

Todos olhavam o Sol.
Eu olhava todos.

Foi difícil escolher:
de um lado, o mar engolindo uma bola de fogo, em um pôr-do-sol tido como um dos mais belos do mundo;
do outro, feições, muitas. Caras, bocas, sorrisos, lágrimas, tudo. Outro espetáculo.
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Duna do pôr-do-sol, Jericoacoara, Ceará.


sábado, 23 de fevereiro de 2008

Luares


Ontem a lua estava linda e imponente, mais uma vez. E é encantadora a maneira como seus momentos de beleza são únicos, inéditos... eles não se repetem. Superam-se, somam-se. Essa lua aí de cima – quem dera tivesse eu uma câmera apropriada – nasceu e morreu em Japaratinga, interior paradisíaco de Alagoas (a mesma praia do vendedor de doce de caju).
Mas, não quero poetisar ultra-doces-melosidades sobre a lua hoje, não. Em breve pesquisa pela rede, achei algumas curiosidades sobre ela:

- A Lua tem diâmetro de 3.476 km, o que representa 27% do diâmetro da Terra.
- A distância de lá até aqui é de 384.000 km- A temperatura média superficial é de 107° C durante o dia e -153° C durante a noite
- Os romanos a chamavam Luna e os gregos Selene e Ártemis
- O Alcorão ensina aos maometanos olhar a primeira lua nova para iniciar o jejum de Ramadan
- O primeiro passo na Lua foi dado com um pé tamanho 41. Este era o número da bota azul do astronauta Neil Armstrong, então com 38 anos. O passo foi dado com o pé esquerdo
- O brilho da Lua não diminui para metade quando ela está em quarto. O seu brilho é apenas 1/10 do que ela tem quando está cheia! Isso deve-se ao relevo da Lua: quando ela está em quarto as partes mais elevadas projetam sombras nas partes menos elevadas e reduzem a quantidade de luz solar refletida na direcção da Terra.
- O mais longo eclipse lunar total entre os anos de 1900 e 2000 aconteceu em 16 de julho de 2000 e durou 1h47m01s

- Na pesquisa “lua poemas” no google, aparecem 2.160.000 resultados. Os resultados para o Rei Sol não são nem um terço disso. A Lua instiga cientistas, poetas, apaixonados, curiosos... Ela é material e imaterial, feita de rochas e desejos.
Por que será que a Lua provoca tanto encanto?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Olhares de (des)encanto


Esse é o Camilo. Típico “filho do caseiro”. Pouco conhece além das porteiras. O mundo dele é inocente. Só sorrisos. E um brilho nos olhos que palavras ou lentes jamais poderiam descrever.
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Outro dia, apressada e cheia dos problemas que a gente inventa, ignorei uma criança que me gritava, de longe, querendo “cuidar do meu carro” quando estacionei na rua. Alguns minutos depois, quando voltei ao carro, o menino pedia, furioso, pelo seu dinheiro, digno de seu serviço. Reclamava, impetuoso, por eu não ter atendido aos seus gritos vindos da esquina de cima, sentado em um meio fio. Não dei um tostão. Bati porta. Liguei o carro. Ele colocou os pés sob o pneu dianteiro, petulante, orgulhoso e destemido. Eu fui firme. Ele ameaçou e praguejou, revelando minha sorte por ele não ter nada ali com o que pudesse me fazer mal. Mas, de alguma forma, o fez. Ele não tinha o olhar encantador do Camilo. E era só uma criança.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Campanha Amélia do Dia

Se ambos brigassem pelo mesmo lado...


Hoje eu não fui ao jornal, e a lugar algum, ainda. Fiquei em casa e daqui do meu computador trabalhei (a minha função me permite isso certas vezes). Além disso, trabalhei em casa também como Amélia, rs. Limpei, organizei, perfumei, quebrei uma unha. E voltei ao computador.
Eu sempre me encanto com a diversidade que podemos assumir. Meia hora lendo sobre um diário de Guimarães Rosa com anotações da Segunda Guerra Mundial, meia hora esquentando a barriga no fogão e resfriando na pia (ah, os homens-machões vão à loucura com essa piadinha).
E é essa diversidade, especialmente a feminina, que eu quero abordar hoje. A mulher precisa determinar – e delimitar – seus papéis? Ela precisa ser tudo ou pode não ser nada? Ela tem que escolher entre ser brilhante profissional ou dedicada dona de casa? Ela precisa ter tanto medo de ser... mulher??
A questão é que, depois de uma história de submissão, a mulherada quis brigar, e brigou – e ainda briga – por igualdade. Na verdade, o processo que está acontecendo hoje não é mais de igualdade não, é de inversão dos valores, de trocar um por outro. Conheço muita mulher que tem horror de ir à beira do fogão fazer uma comidinha gostosa para agradar quem quer que seja (até a si mesma). Parece que há uma aversão feminina a tudo que foi dito feminino. Hoje elas querem ter um carrão, um emprego maravilhoso, um gatão gostoso para as horas convenientes... e só! Além, não perdem tempo pensado em casa, marido ou filhos (talvez depois dos 40, se a medicina ajudar e se já existir um tratamento definitivo para estrias).
Eu fico pensando no que vai acontecer ao mundo sem a sensibilidade feminina. Além dos comerciais de margarina, muita coisa pode mudar, rss. Não quero ser feminista e dizer que nós, com todo nosso glamour e charme, estamos no topo. Nem ser machista, ditando que a mulher jamais deve deixar sua cozinha esquecida. O que eu quero é dizer que existe alguma divisão de papéis que funciona legal. Não aquela ditada por uma sociedade (não gosto dessa), mas aquela coordenada por um instinto (essa eu adoro). Fora as exceções, mulheres e homens têm algumas percepções e aptidões comuns dentro de cada sexo. Sensibilidades diferentes. É isso.
Algumas mulheres são macho pelo instinto delas, parabéns. Outras o querem ser pelo feminismo, pela inversão de papéis, pelo “troco”. Tsc tsc tsc... Alguém já teve boas oportunidades de notar um ambiente sem a alma feminina (mesmo a que vem de um homem rss.)? É menos colorido e mais objetivo. É mais prático e com menos detalhes graciosos onde se perder. Pelo outro lado, ao lugar ultra feminino parece que falta um algo para preencher (não foi piada).
Sendo um pouco masculina agora, a questão é a seguinte: matemática pura. A soma aumenta o bolo. Então eu lanço a campanha: “Mulheres: sejam Amélia 30 minutos por dia”. É mesma recomendação de tempo quanto ao exercício físico, o que quer dizer que sempre pode ser mais, rs.
Ando vendo muita criança mal alimentada que vive se enchendo de Mc Donald’s porque a mãe não pode – e nem sabe – preparar um lanche decente. Tenho visto muita mulher que exige que seu parceiro cumpra o papel de homem e troque o pneu do carro sozinho, no sol, mas que, quando chega em casa, torce o nariz e não passa a camisa que ele pediu (“tá achando que eu sou o que? Dona de casa?”). E tenho visto blá, blá, blá, blá....São muitos exemplos, vistos de qualquer janela.
Hoje eu acordei. Trabalhei. Li revistas de cultura e JGR. Ouvi “La Traviata”, de Verdi, pelo menos umas três vezes. Também Marisa Monte. Fiz um delicioso capeletti de tender ao molho de damascos e ervas para o almoço. Lavei louças. E roupas também. Bati, como nos velhos tempos, um bolo à mão, com colher de pau, e assei-o, para o café da tarde. E estou me sentindo MULHER, muito mulher, completa e diversificada. Fera, bicho, anjo e mulher. Gabriela do Amado, Helena do Maneco, Amélia do Roberto. Thalita.
Mulheres, não temam uma unha quebrada.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

- Vai um doce de cajú dona?
- Não, obrigada...
- É bom, fresquinho. Vendo doce nessa praia tem uns quinze anos...
- Eu quero é tirar uma foto, pode? Depois a gente vê o doce...
- Pode.
(Japaratinga, Alagoas)

O Encanto Primeiro

“Seu dia hoje tem uma carinha especial, de encanto, na sua forma de falar ou de escrever. Mostre sua sensibilidade e sua meiguice, muitas vezes disfarçada para se defender”. Isso veio do horóscopo. Li hoje pela manhã quando fui arrumar a página com astrologia para o jornal. Eu fiquei até encantada, lisonjeada, abri um sorriso meigo e pensei em um dia lindo, ah! Então sacudi a cabeça, olhei no relógio e guardei tudo no bolso. Continuei a trabalhar. Mas, disfarçada a meiguice, ainda pensei no “falar” e “escrever”. Legal. Eu gosto. Porém, são minha rotina, as faço diariamente, são meu ganha pão. Deixa pra lá...
Dia sossegado, mas cheio. Metade dele na frente de um computador, lendo muita coisa que outras pessoas escreveram. E, na hora daquele banho no fim do dia (incrível como banho é uma coisa reflexiva), veio de novo “falar”, “escrever”, “encanto” à cabeça. E, então, cá estou, escrevendo, fora da rotina, fora do jornal, da revista, do dinheiro e, ufa, fora do banho (por pouco, pois se pudesse, começava a teclar de lá mesmo).
E a parte do encanto, onde eu encaixo? Eu gostei daquilo no horóscopo, mesmo. Bom, vamos primeiro aos sinônimos que encontrei no dicionário: feitiçaria, mágica, sedução, beleza, magia. Ótimo. Eu gosto de tudo isso, porque é misterioso, porque é magnético e me atrai. Taí... esse será o primeiro post de um blog que vou criar. Ta na moda, né?! (rsss.) E como a liberdade é encantada, não vou me prender a nenhum assunto. Vou escrever sobre tudo aquilo que me encanta, que me vem aos olhos como magia.
Para começar, nada mais me vêm à cabeça além do próprio conceito de “encanto”. Sem dicionários agora, o que é que promove o encanto? Por que é que a gente se encanta ou não se encanta por qualquer coisa? Não há critérios. É por isso que eu gosto tanto de observar – e de me encantar. Olho por uma janela, vejo a rua, as pessoas no seu cotidiano, outras saindo da rotina. E, ali, no meio de tudo, alguma coisa sempre salta aos olhos. Mais, muito mais que as outras, e, tenho dito, sem critério. Passa a ser encantada. O momento congela e vira memória. Lembra-se?
Às vezes eu penso que isso acontece porque nossa memória é gigante, de outras vidas – e não temos acesso a quase nada no consciente. Mas rola um “click”, uma identificação com alguma coisa. Nas relações pessoais, o encanto ou é imediato ou é inexistente. É pouco provável conhecer uma pessoa e apenas muito tempo depois enxergar uma aura de encanto em torno dela. Não é mesmo?! E não importa o que aconteça entre você e essa pessoa, ao final de qualquer coisa, ainda existirá um olhar, mesmo que disfarçado e oprimido, de encanto.
Lembrei-me de um trecho de uma entrevista que eu vi com o escritor Humberto Eco, sobre o livro “História da Feiúra”. Certa hora ele dizia sobre como é incrível o fascínio que algumas pessoas exercem, mesmo sendo esteticamente feias, consideradas fora do padrão. “Fascínio”. Era essa a palavra que ele usava e descrevia como algo magnético, sem critérios, sem explicação. É o que, aqui, estou chamando de encanto.
Quantas pessoas e momentos da sua vida você consegue encaixar no setor de “encantados”? Ah, se encantar com uma paisagem belíssima é fácil. Mas e aquela vez que você se encantou por um algo diferente, talvez feio e insignificante para o resto do mundo?
Apesar de eu ser um tiquinho pretensiosa (confesso), não tenho aqui a pretensão de querer explicar e definir o que é o encanto. Eu quero é filosofia de boteco, como dizem. Papear, sabe?! Discutir. E encantar, claro! (eu falei que eu era pretensiosa, falei...rs.). Que o encanto venha. De uma frase escrita, de uma palavra, de uma reflexão. Mas, que venha.
Ah, para quem quis saber, meu signo é Peixes.