terça-feira, 8 de abril de 2008

Eles têm fome de que???














'A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.'


(Fotos: aniversário de quatro anos da Central Única das Favelas de Mato Grosso, CUFA-MT, em 07/04/08)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O Suicida 2

E quando ele achou que era o fim da linha... (foto: Lagoa do Banana, Ceará)



Evan já nem se lembrava daquelas coisas sobre morte. Não pressentia, não queria, não pensava.
Nas últimas férias, quando vira sua filha caçula, que estuda em outra cidade, ganhara dela um aparelho celular. Os mais novos sempre querendo empurrar tecnologia...
Evan, como de costume, reclamava muito do aparelho. Também usando o apreciado diminutivo para chamar a filha, dizia, ao telefone:
- Filha, queridinha, esse celular não presta. Não pega em lugar nenhum. Não funciona direito!
E vivia a questionar o pobre aparelho. Até que, em um belo dia, perdeu o celular. Era a vez de queridinha reclamar. Acusou o pai de ingratidão. Ele perdera o celular que ela dera, com tanto carinho.
Chateado por ter magoado a filha e ouvido palavras duras, Evan foi a seu restaurante preferido para procurar consolo. Sozinho, pediu uma cerveja começou a pensar, tristonho. Não queria ter chateado queridinha.
Logo, porém, veio o garçom, com a boa nova:
- Sr. Evan, o senhor deixou um celular aqui...
Que felicidade! Ele havia recuperado o celular! Podia ficar feliz e fazer as pazes com sua filha. Terminando sua cerveja, pensou que, dali adiante, tomaria todo o cuidado com o “infeliz desse aparelho”. Por ela, por queridinha. Ajustou o pensamento e decidiu que iria deixar o celular sempre no bolso da camisa. Ali seria seu lugar, no bolso esquerdo, pertinho coração, para sempre lembrar que sua filha o presenteara. E ali o guardou, imediatamente.
Satisfeito, pagou a cerveja e voltou para casa, a mesma do oitavo andar. Novamente, encontrou a casa vazia. Diabético, calculou que precisava de sua insulina.
Sem a queridinha esposa, foi para quarto fazer ele mesmo o serviço, com um sorrisinho no rosto, parte pelo celular, parte pela cerveja.
Insulina, seringa, agulha, tudo pronto. Seria aplicada, como sempre, na barriga. Subiu um pouco a camisa e segurou-a. Afrouxou a calça. Iniciou a aplicação.
De repente, um terremoto assombrou o coração de Evan. Uma palpitação. Agonia.
- Meu Deus! Infarto! Estou Infartando! Socorro! Vou Morrer! Infarto!
Evan deixou a seringa cair no chão. Ele caiu também, sentado e desolado, sentindo a morte. E, dessa vez, não haveria tempo para esperar a esposa.
Logo, tudo parou. Evan se deu conta que alguém tentara falar com ele. A palpitação no peito era o celular, vibrando, no bolso na camisa, tão perto do coração...
Era a luz no fim do túnel, em forma de um display luminoso onde se lia “1 chamada não atendida”.