domingo, 14 de setembro de 2008

Música clássica em Mato Grosso

Orquestra de Mato Grosso em concerto no Mercado do Porto em 30 de agosto. Foto: Protásio de Morais

No último 7 de setembro publiquei no Correio uma entrevista que fiz com Leandro Carvalho, maestro da Orquestra de Mato Grosso. É o post de hoje. Um pouco extenso mas vale a pena ler! Aí vai...

Um notável nome na cultura mato-grossense: Leandro Carvalho

As apresentações já nem são tão necessárias. Leandro carvalho, maestro da Orquestra de Mato Grosso, já conseguiu lançar seu nome - e o da orquestra - por todo o Brasil. Quem dirá aqui na região... Saindo das salas fechadas de concerto, ele ganhou as ruas, as escolas, as fábricas, as praças e até o Mercado do Porto, onde, no último dia 30, a Orquestra fez um de seus concertos mais especiais e inusitados. E, assim, no melhor dos sentidos, Leandro caiu na boca do povo. O Correio foi bater um papo com ele, na tentativa de explorar um pouco mais esta personalidade. O resultado? Tivemos que sair do padrão e fazer, de maneira inédita, uma “capa dupla” para esta edição! Criatividade é contagiante...


Leandro, como foi o seu processo de “despertar” para a música e como foi a transição para a vida profissional?


LC - Minha infância foi cercada de músicos. De mestres violeiros, como Adauto Santos, passando por João Pacifico, ao Maestro Eleazar de Carvalho. Meus pais, mesmo médicos, sempre foram amigos de músicos e gostavam de reuni-los em casa para saraus que varavam a madrugada. Meu primeiro mestre foi Turíbio Santos. Cheguei até ele pelas mãos do Maestro Eleazar de Carvalho. Irônico porque naquela época eu nunca poderia imaginar que a regência me esperava. Meus pais foram amigos do casal Eleazar e Sônia Muniz (pianista e segunda esposa do Maestro). Com quatorze anos, o Eleazar me convidou para ser solista da OSESP, sob sua regência, num concerto especial a ser realizado no Memorial da América Latina. Tocamos algumas adaptações de Bach para violão e cordas que o próprio Eleazar fez. Depois disso, o Eleazar pediu ao amigo Turíbio que me ouvisse. Naquela altura, o Turíbio dava pouquíssimas aulas particulares e abriu uma exceção. Fui com meu pai para o Rio de Janeiro para tocar para o Turíbio. Chegamos em seu apto, era uma tarde bonita, céu azul. Meu pai foi logo para a varanda e começou a reparar nos pássaros e nas plantas, enquanto eu reparava no Turíbio e ele em mim. Depois de algumas músicas o Turíbio propôs que eu aprendesse uma série de exercícios técnicos e um longo repertório para o mês seguinte. Após essa primeira etapa, ele daria o veredicto. Trinta dias depois, fui sozinho ao Rio com os cinco prelúdios e o Choro n.1 de Villa-Lobos, algumas danças da Suíte em mi menor para alaúde de Bach, mais uma tonelada de exercícios técnicos debaixo dos dedos, tudo de cor! O Turíbio gostou e foi dizendo: “Bom, então para o próximo mês ....”. E ai começou uma longa amizade, com muito respeito e admiração, concertos e três discos em parceria, com destaque para “O Guarani” que gravamos em duo em 1999.

O seu sucesso com a música veio com sua carreia de violonista. Gravou nove cd’s, fez concertos em todo o Brasil e Europa... Teve mestres como o Turíbio Santos, um dos grandes violonistas brasileiros. Enfim, tinha tudo para continuar essa carreia. O que te fez mudar de rumo e buscar outros desafios?


LC - Sempre vi o violão como uma ‘ferramenta’. O objetivo sempre foi a música. Para mim a mudança foi natural, necessária. Mesmo não tocando mais violão, nunca fiz tanta música como agora.


Você graduou-se em Música Erudita em São Paulo e depois foi para a Holanda. Como foi esta experiência fora do Brasil?


LC - O período na Holanda foi muito enriquecedor. Foi muito difícil também. A adaptação foi traumática. A Holanda não é o país que pensamos. Eles vendem uma imagem que não corresponde à realidade. Ou melhor, vendem uma imagem turística de um país moderno, liberal, dinâmico e tolerante. Depois de algum tempo vivendo no país, com passaporte europeu (!), vi que ‘o buraco é mais embaixo’. Muitas universidades e conservatórios europeus de destaque estão com salas vazias por falta de alunos. Em música, a situação é grave. É por isso que estas instituições fazem promoções no exterior para atrair talentos. Além de estudar regência, continuei me dedicando à carreira de violonista. Como meus Cds vendem razoavelmente bem na Europa, fui procurado por alguns empresários e acabei fazendo concertos em locais de grande prestigio como o Royal Festival Hall, em Londres. Lembro de receber convites para concertos em 2007. O problema é que estávamos em 2002! Fiquei chocado com isso. Nesta época, comecei um trabalho com o quinteto de cordas inglês ‘Britton String Quintet’, formado por jovens britânicos extremamente talentosos. Gravamos o disco ‘London Poem’, fizemos muitas turnês no Brasil e no Reino Unido. Um ano após o encerramento da última turnê, eu estava à frente da Orquestra do Estado de Mato Grosso, o violoncelista David Gardner aceitou o desafio de levantar a Orquestra comigo e também se mudou para Cuiabá para liderar o naipe de violoncelos, o violista Thomas Beer estava à frente do naipe de violas da Orquestra The Halle, na Inglaterra, e a violinista Rebecca Allan, meia inglesa, meia alemã, havia ingressado na Filarmônica de Berlim. O mundo dá piruetas!

No seu mestrado em História Social, em Pernambuco, você teve a orientação de Ariano Suassuna, um grande defensor da cultura brasileira, da cultura popular. Como foi sua experiência em PE? Esse contato com Ariano teve influência no que você faz hoje na Orquestra de MT, misturar o erudito ao popular?


LC - Minha ida para Pernambuco se deu numa atmosfera idílica. Eu estava em busca do Brasil de Villa-Lobos. Achava que ainda existia. Queria me aproximar da cultura popular nordestina. Quando fui lançar meu primeiro CD “João Pernambuco o Poeta do Violão”, em Recife, em 1997, conheci Ariano e surgiu a oportunidade de continuar meu trabalho sob sua orientação. Conhecer a literatura ‘básica’ sobre o Brasil ajudou muito a me adaptar ao ambiente acadêmico das ciências humanas. O porquê do meu interesse por isso deve ter a ver com meu pai, Turíbio, João Pacifico e as pessoas com as quais convivi desde criança. Sobre o “Eurdito X Popular” eu diria que, para nós músicos, existe pouca distinção entre música ‘isso’ ou música ‘aquilo’. Popular, erudito, brasileira, e outros, são conceitos que se rarefazem na medida em que nos aprofundamos no estudo da música (ou em outras linguagens). No entanto, na hora de organizar uma temporada de concertos e estabelecer as diretrizes artísticas de uma orquestra, é preciso levar em consideração uma série de fatores. Em Mato Grosso, por exemplo, definimos uma nova estrutura para os concertos: em vez do tradicional, ou seja, primeira e segunda parte, com aproximadamente 50 minutos cada, com um intervalo de 20 minutos, decidimos fazer apenas uma parte de 70 minutos, começando sempre com uma peça ‘séria’, do repertório universal. Após este primeiro momento de muita concentração por parte da orquestra e do público e de silêncio absoluto, entram as violas de cocho e a percussão e partimos para outro repertório, com peças mais curtas baseadas na cultura popular brasileira e sul-americana. O resultado é um público anual, apenas em Mato Grosso, em torno de 150.000 pessoas.


Você foi um dos criadores da Orquestra em 2005. Hoje, a Orquestra goza de destaque nacional, pela voz da crítica e pela voz do povo. Recentemente, acabaram de chegar da turnê Sonora Brasil, passando por 22 estados brasileiros. A que você atribui esse destaque de uma Orquestra tão nova, tão recente? Como funciona a administração da Orquestra?


LC - O sucesso da Orquestra é uma somatória de muitos fatores, começando pela vontade do poder público em criar e manter um grupo de alto padrão, neste caso o Governo do Estado chefiado pelo Governador Blairo Maggi. A partir desta percepção, sensibilidade e atitude, reunimos um grupo de empresas sérias e preocupadas com o desenvolvimento social do Brasil para patrocinarem a Orquestra. Desde 2005, a estrutura de gestão da Orquestra foi se aperfeiçoando para chegar hoje num modelo próximo do ideal, semelhante as melhores orquestra do mundo. A estrutura de uma orquestra é uma coisa complexa e pode ser comparada à estrutura de grandes corporações. Mesmo numa orquestra de câmara, como é nosso caso, você tem um corpo de funcionários em torno de cinqüenta pessoas, dentre músicos, produtores, administradores, arquivista, montador, além do serviço terceirizado de contabilidade e comunicação. Toda a complexidade das relações de trabalho está no dia a dia da Orquestra. É preciso também saber se relacionar com os patrocinadores (cada empresa tem uma maneira diferente de trabalhar e espera resultados específicos do investimento realizado) e com o Governo Estadual e Federal. As relações políticas também fazem parte do nosso dia a dia. É preciso agüentar muita pressão para garantir que a ‘carruagem’ não se assuste com o ladrar dos cães. A Orquestra tem o Governo do Estado na base de sua sustentação e as empresas Votorantim, Nortox e Bimetal como patrocinadoras. Além disso, várias outras empresas nos dão apoio em forma de serviços, com destaque para a Localiza e para o Sesc Mato Grosso. Em 5 de julho de 2007, foi publicado o decreto governamental reconhecendo a Orquestra do Estado como OS – Organização Social da Cultura. Desta forma, o relacionamento da Orquestra com o Estado regula-se através de um ‘contrato de gestão’, dando mais segurança e sustentabilidade para o desenvolvimento dos trabalhos. Vejo isso como uma importante conquista da sociedade. È para ela que trabalhamos! Os maestros e os músicos passam, mas a Orquestra continua. È importante ganhar força para resistir às transições políticas.


Você foi apontado como um dos dez artistas de maior importância na música clássica da década, pelo Anuário Viva Música 2008. O mais jovem da lista. O único fora dos grandes centros. O que isso representa para você? E o que isso deve representar ao público?


LC - É uma honra receber uma indicação como esta, vinda da mais importante publicação do setor. Recebo este reconhecimento em nome de um grupo de profissionais sérios e comprometidos com seu trabalho. São dezenas de músicos e gestores que trabalham diariamente para fazer com a Orquestra do Estado de MT alcance um patamar de excelência. O reconhecimento deste trabalho nos dá ânimo para continuar a caminhada. Ressalto ainda que, com destaques desta natureza, o nome do Estado de Mato Grosso começa a ser veiculado na mídia nacional relacionado à música, ao desenvolvimento humano e a excelência. É uma contribuição importante para melhorarmos a imagem deteriorada, em vários aspectos, do Estado no imaginário brasileiro.


Pela sua história, é possível ver que é um homem de desafios. Quais serão os próximos?


LC - A Orquestra do Estado de Mato Grosso caminha para ser uma das melhores orquestras do Brasil. Parece uma afirmação pretensiosa, mas essa é a vontade dos músicos e do público da Orquestra. E não apenas ‘do maestro’. Estruturamos o trabalho da Orquestra com foco na democratização do acesso à cultura. Ressalto que este direcionamento não se dá em detrimento à qualidade técnica e artística ou a seleção de um repertório interessante. Analisando o comportamento das orquestras no Brasil e observando atentamente a ‘ascensão e queda’ de grandes orquestras européias percebi que muita coisa estava faltando. Era preciso se libertar do convencionalismo retrógrado das salas de concerto. Encontramos em Mato Grosso um ambiente propício para experimentarmos uma proposta diferente. Após três anos de trabalho, levamos ao coração de São Paulo e apresentamos para um público habituado a freqüentar salas de concerto e ver grandes orquestras. O resultado foi ótimo. Acredito que o futuro, ou melhor, a sobrevivência da música ‘clássica’ depende da reformulação radical de conceitos por parte, principalmente, dos maestros e administradores. Os patrocinadores já têm outra cabeça e vão procurar orquestras que tem o foco no homem comum e não necessariamente naquela meia dúzia de freqüentadores ‘nariz empinado’ das salas de concerto. Mais uma vez, o foco deve estar na descentralização e na democratização. E uma orquestra deve ser vista como um patrimônio da população, algo que traga orgulho e se relacione diretamente com os valores da comunidade. Os maestros passam, os músicos passam, os governantes mudam, mas, de geração em geração, a orquestra atende a população e preserva valores fundamentais para aquela sociedade.

* Quem quiser saber mais sobre a Orquestra de Mato Grosso e conferir a programação de concertos, pode acessar o site www.orquestra.mt.gov.br.


quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Agosto desgosto?




Agosto, do latim Augustus, é o oitavo mês do calendário gregoriano. É assim chamado por decreto em honra do imperador César Augusto. O mês também carrega uma série de crenças populares, que o apelidaram de “mês do cachorro louco” e até “mês do desgosto”. Mas, por que será que isso acontece?


A história conta que os romanos não gostavam do mês de agosto. Acreditavam na existência de um dragão enorme, horrível, que, cuspindo fogo pelas narinas, passeava no céu durante todo o mês, dragão este que não passava da constelação de Leão nos céus do hemisfério norte.


Em Portugal, as mulheres não casavam nunca no mês de agosto. Na verdade, nem era por superstição, no início. É que o mês era a época em que os navios das expedições zarpavam à procura de novas terras. Casar em agosto significava ficar só, sem lua-de-mel e, às vezes, até mesmo viúva, já que os maridos embarcavam e muitos não voltavam. Com o tempo, fez-se a lenda. Os colonizadores portugueses trouxeram esta crença para o Brasil já transformada em ditado popular, segundo o qual "Casar em agosto traz desgosto”.


Aqui em Cuiabá a superstição ainda vale. O Frei Alceu Boniatti, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, conta que em agosto o número de casamentos diminui muito. “Mas pessoas já foram mais supersticiosas. Hoje está melhorando”. O Frei acredita que o fato do número reduzido de casamentos nesse mês não é apenas culpa da carga pejorativa que agosto carrega, mas também porque as pessoas estão ficando mais práticas. Dezembro é um dos campeões de uniões matrimoniais, por conta das férias, da visita dos parentes e do 13º salário.


Mas, superstição não se mede, não é mesmo? O que podemos fazer é listar alguns acontecimentos escabrosos que, por coincidência ou não, assolaram o já perturbado mês agostino.

No dia 1º de agosto de 1914 começou a 1ª Grande Guerra Mundial. A Segunda Grande Guerra teve início em agosto de 1939. Com a morte de Hinderiburgo ocorrida no dia 2 de agosto de 1932, Hitler assume o governo da Alemanha. Em agosto de 1945 as cidades de Hiroshima e Nagazaki foram destruídas por bomba atômica. No dia 13 de agosto de 1961 foi iniciada a construção de um muro, em Berlim, depois mais conhecido como o Muro da Vergonha.


Na cidade de Nova York, no dia 6 de agosto de 1890, o primeiro homem foi eletrocutado numa cadeira elétrica, Em agosto de 1957 foi decretado estado de calamidade pública no Brasil em conseqüência da epidemia da gripe denominada asiática, sendo transformados em hospitais de emergências escolas, clubes e repartições estaduais e federais.


Como resultado de uma crise política que assolou o país, suicidou-se, em 24 de agosto de 1954, no Rio de Janeiro, o então presidente da República Getúlio Vargas. Juscelino Kubitscheck também morreu em agosto.


Uma outra morte em agosto sentida pela cultura nacional foi a de Glauber Rocha, um gênio que abriu novos caminhos para o cinema mundial. Raul Seixas também faleceu em agosto. Vale dizer que no dia 24 de agosto o candomblé brasileiro comemora o dia de todos os Exus. E dizem que o “coisa ruim” anda solto por aí, aprontando as suas. Ah, também instituíram esse como o “Dia da Sogra” (fica a pergunta: a superstição contra as sogras nasceu dessa data comemorativa ou a data foi escolhida justamente por já haver a superstição? rs).


Brincadeiras e crenças à parte, o fato é que o mês de agosto, pelo menos em Mato Grosso, é quase literalmente intragável. O Frei Alceu, longe de acreditar que Deus tira férias neste mês, atribui o mal estar de muita gente ao clima horrível que se instala por aqui, fruto da época, do tempo extramente seco e das queimadas. O baixista Samuel Smith concorda com o Frei: “Só sei que agosto é o mês mais seco do ano. E isso atrapalha à beça...”.


Se você vai “passar agosto esperando setembro”, como canta Zeca Baleiro, uma boa reza nos lábios e uma bacia de água do lado vão ajudar. Acredite. E ainda bem que o mês já se vai, enfim. Será quando chove???

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Novo Homem

Um céu de julho em Rondônia

Faz tempo que esse assunto me rodeia em filosofias de boteco, entrevistas, matérias, exemplos vivos... Falo de um tipo masculino da atualidade, sem nomes, definições ou apelidos. Ele é sensível, não gosta de coçar o saco na frente dos outros e passa longe do estereótipo machista. E ele, absolutamente, não é gay.

O que mais me tristemente comove neste assunto não é o fato desses homens estarem se libertando das amarras machistas, pois isso, pra mim, é normal, é evolução. Mas, a realidade de que muitas mulheres estão recebendo isso com preconceito. Aliás, elas não estão nem recebendo (rs.).

Esse novo tipo de homem, que tenho prazer de apontar na minha agenda telefônica mais amistosa, é, contraditoriamente, o que eu já ouvi muita mulher desejar. Eles interessam-se por moda e estilo, ou pelos menos se vestem bem, gostam de cuidar da casa, não acham que design de interiores é coisa de... (deixa pra lá), não abominam discussão de relacionamento, vulgo e temido DR, e não se importam de assistir uma comédia água-com-muito-açúcar com a namorada (gostar também já é demais...).

Esse novo tipo, mesmo gostando de futebol, não acha que é a coisa mais importante do mundo, ainda mais acompanhada de uma picanha mal passada com um dedo de gordura escorrendo (que ele limpa na toalha da mesa ou no calção). Ele preocupa-se com o colesterol e a alimentação em geral. Receber boa indicação sobre o próximo cabeleireiro que irá freqüentar, para que não tenha problemas. Preocupa-se com a pele e usa filtro solar. Lê sobre tudo. Gosta das artes. Sabe ir ao mercado, fazer uma boa compra e dizer se o quilo da banana maçã está muito caro.

God! Quantas vezes eu já ouvi – e tenho certeza que você também – reclamações acerca da grosseria masculina, da falta de tato com assuntos da casa, da acusação de futilidade quando o assunto é cuidar da beleza e do corpo? Perco a conta, inclusive dos “etc” que poderiam surgir antes da interrogação. E nem me interessa mais contar. Agora começo a anotar na caderneta coisas do tipo “ah, ele se veste bem, cozinha e não sai pegando todas, só pode ser gay!”. Ok, ele pode ser sim, da mesma maneira que pode não ser. Então, sem preconceitos.

Acho que a grande questão é que as mulheres ainda estão aprendendo a receber o novo homem. Elas esperam o tipo machão viril, que pisa e pega firme (“God!” de novo, rs.), e que jamais saberia escolher um shampoo bom pro seu cabelo. É o hábito... Habitualmente elas esperam um tipo do qual irão fazer as mesmas reclamações de todo o sempre. Se o sexo for muito bom, perdoável – dirão.

Quando disse que o novo homem não tem apelidos, menti. Eu o dei um, Homem-Fêmea, mas escondi com receio de parecer pejorativo. Mas, agora, acho conveniente dizer. Pois, enquanto isso, na sala de justiça, surge uma nova classe feminina que pode dar muito certo com o Homem-Fêmea: a Mulher-Macho. É ela quem vira e dorme depois de você-sabe-bem-o-quê. E é ele quem fica puto. Mas, essa é história para outro capítulo.

O mundo é uma divertida e louca história.





terça-feira, 22 de julho de 2008

Uma Arte-Moda Irreverente


Como todo libriano, ele tem um apurado senso estético. Apurado - repito - e muito original. A originalidade tempera também sua arte, sua vida e seu nome: Einstein Halking. Nome esse que, não por acaso, remete a gênios da física. Porém, a verdadeira fórmula de sucesso deste Einstein está nas cores, formas, tecidos, recortes... Um estilista. Um cara da moda.

Com 25 anos, ele é dono, mentor e “pau-pra-toda-obra” da “eh.”, uma marca de roupas masculinas, com predominância em camisetas criativas e inusitadas. No slogan da marca é possível sentir que o senso comum não estampa suas peças: “Um dia todos serão iguais. Aproveite enquanto você é diferente”.

O interessante é que antes da eh. Einstein criou a eh. FACTORY, um laboratório de criação de arte, experimentação, sem a preocupação com o lado comercial. A moda, para ele, não foi causa, mas conseqüência.

Ele é um amante das artes plásticas, tendo passado pela pintura e fotografia. E, descobrindo que queria mesmo era ter o corpo como ferramenta e obra de arte, resolveu seguir o caminho da moda. Ela seria seu espaço, seu mural.

Antes de unir moda e arte, o universo era todo observação, pesquisas e palavras. Deslumbrado com tudo que acontecia na cultura underground, ele olhava, processava, digeria e mandava para fora. Foi aí que, desde a época do colegial, ele lançava pequenas publicações sobre o mundo não-convencional da arte, das ruas, da moda. “Sempre gostei do que não era correto. E por que não era correto? A estética marginal me agrada muito. O rebelde, o fora da lei”, revela Einstein.

Com toda essa raiz de pesquisa e observação, partir para tesouras e tecidos foi bastante natural. Previsível, talvez. E, hoje, na bagagem, ele tem coleções e coleções de peças e um livro saindo do forno. Livro esse que realiza seu mais antigo desejo em relação à moda, o de construir algo moderno e contemporâneo, que tivesse a ver com sua amada arte e com Mato Grosso. Mas, essa é uma cena a ser mostrada apenas no próximo capítulo, daqui a alguns meses.

São tantos os detalhes nas entrelinhas de uma simples camiseta da eh. que fica difícil a atenção direcionada aos assuntos mais técnicos. Mas, falemos deles. As camisetas, masculinas e muito bem recebidas pelo público feminino (customizar é o barato) são tudo, menos óbvias. A mais nova coleção, “We are eh.” Vem com muita mistura de tecidos e texturas. Halking gosta de usar aquilo que jamais seria comum, como apliques de recortes de um tecido de cortina sobre uma camiseta. Quem sabe uma toda de renda, preta, com forro de cetim, chiquérrima? “Essa coleção é uma grande brincadeira com formas, estampas, tecidos, cortes e cores“, conta o estilista.

É comum ver nas peças tecidos tingidos manualmente, com aspecto sujo e manchado. Cores fechadas, escuras, somadas a tons alegres. Elementos arquitetônicos estão sempre presentes. Tudo isso confere ao conjunto um ar bastante original e alternativo.

Com o propósito de quebrar o conceito da uniformização, Einstein desenvolve peças únicas e exclusivas. O público é pequeno, porém fiel. Nas etiquetas das camisetas não há nada escrito, apenas um espaço preto, vazio. “A identificação está no estilo. Quero que as roupas falem por si. Que as pessoas comprem pelo que é, não pela marca escrita da etiqueta”, explica o estilista.

As camisetas da eh. custam hoje algo entre 30 e 50 reais. A venda e a divulgação são feitas pela internet. Quer ver? Está tudo no site http://www.ehfactory.blogspot.com/, que, além de blog, funciona como uma loja virtual. Einstein também faz o sistema “delivery” com as peças, para que os clientes possam vê-las de perto e prová-las.
Repito o slogan... Aproveite enquanto você é diferente!

(matéria publicada no Jornal Correio em..em.. puta, esqueci, mas já tem uns poucos meses)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O conto das falsas coincidências


Todo dia de manhã era tudo igual. Ou quase. O sol batendo na parede direita do quarto, o despertador muito pontual, o alongamento, o banho, as notícias na internet, o “bom dia” ao dia... As frutas do café da manhã variavam, mas nem tanto. Por entre os atos diário-mecânicos surgiam fagulhas de novidades, às quais ele agarrava-se com força. Eram pequenos sinais, que davam o tom de quase à quase rotina e alimentavam a mente.
Ele falava pouco, porque gostava de observar muito, e achar os seus sinais. Naquela manhã de sexta-feira houve um acidente no trânsito, o que complicou bastante o tráfego. Em certo ponto, onde não era mais possível seguir reto, os motoristas embananavam-se entre o desvio direito e esquerdo. Ele, por uma fração de segundos, quase teve a mesma dúvida, mas lembrou-se da palavra “direito” na manchete em destaque no site de notícias que vira ao acordar. Por ali ele foi, pelo lado direito, que continha uma placa indicando a direção Sul.
O desvio redeu um pequeno atraso no trabalho. Nada grave. O pior dano foi não encontrar mais nem um gole de café na disputada garrafa térmica no escritório. As pessoas bebem muito café pela manhã. Na cantina do mesmo andar, ele resolveu comprar um chá, daqueles enlatados, gelados. A experiência foi boa, ele gostou. Resolveu ler o rótulo, a bebida era fabricada na região Sul do Brasil. Algo lhe despertou um sorriso daqueles de canto. Deve ter sido para o lado direito.
O trabalho foi normal. O almoço era sempre em algum restaurante ali por perto, para onde ele gostava de ir caminhando. Escolheu, entrou, serviu-se. Comeu assistindo à grande televisão de plasma que distraía famintos e satisfeitos. Antes de sair, uma matéria sobre a tradição das rodas de chimarrão roubou-lhe um minuto.
O trabalho durante a tarde voou. Prestes a ir embora, um colega perguntou sobre os planos para o feriadão que se iniciava no dia seguinte. Ele respondeu que não sabia, embora sua cabeça já pudesse imaginar.
Na volta para casa, depois do expediente, o caminho normal já pôde ser feito. Em casa, fumou o único cigarro do dia e cumpriu outros rituais. No último noticiário de sexta, ouviu, no quadro das previsões climáticas: “tempo bom na região sul do Brasil”.
Desligou a tevê. Organizou as idéias – e as malas. Na manhã seguinte pegou o primeiro avião para o Sul. Talvez estivesse lá o que ele tanto procurava.
Quase teve certeza quando viu que o número de seu vôo era o mesmo que os últimos quatro dígitos de seu telefone fixo. Na revista de bordo, uma pergunta na capa: “Você acredita em coincidências?”. A resposta dele foi clara. O sorriso, agora, foi com os dois cantos.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Linda Alegria









Quando eu a vi, me apaixonei. De todas as crianças, ela tinha os olhos mais curiosos e expressivos. Talvez porque falasse muito pouco com a boca.
O lado esquerdo da barriga era protuberante em excesso, por conta de um câncer.
Mas, maior que a dor, era a alegria.
Linda Alegria.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Eles têm fome de que???














'A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.'


(Fotos: aniversário de quatro anos da Central Única das Favelas de Mato Grosso, CUFA-MT, em 07/04/08)